Alfabetização na idade incerta


Desde que o mundo é mundo, como dizia a minha avó Eva, ações estapafúrdias são presenciadas em relação às crianças, no que concerne a Educação. Se nos primórdios da humanidade, os pais podiam matar os seus filhos caso os rejeitassem, a sociedade da Idade Média vivencia o total poder patriarcal, no qual os campos social e político são totalmente controlados pela figura do pai. Não muito longe daqui em tempos, o status do Ser Criança era totalmente nulo, cabendo a vontade do pai a sua existência ou não nos meios sociais.

No Brasil, a ascensão das indústrias, por volta dos anos 70, impulsiona a luta das trabalhadoras por um lugar para colocar os seus filhos enquanto trabalhavam horas e horas.  Muita água rolou até que esse lugar para que as trabalhadoras colocassem os seus filhos ganhasse algum respeito e, por conseguinte, um nome - Educação Infantil, ainda que, por ideais exportados. Mas como quase todas as Ciências, a Educação não ficaria de fora.



Nos anos de 1988, nascituro da Nova Constituição brasileira, a Educação Infantil ganha, então um codinome, mas a sua identidade vaga até hoje na busca do encontro com o seu eu. Cuidar, assistir, amparar, tratar, higienizar. Ações que sempre se mantiveram presentes na desidentificada Educação para as crianças.

De lá até aqui nós, educadores, vamos ensejando nossas práticas pedagógicas ancorados naquilo que nem ao certo sabemos do que se trata. Contamos com a sorte da nossa ação intuitiva e nosso olhar observador e inquieto, bem como nossas buscas incessantes por um porto mais seguro, que dê conta de nos permitir a apropriação de ideias acerca da condição do Ser e, através dela, da condição do ser Criança.



Séc. XXI super infiltrado entre nós e ainda buscamos algo que nos dê pistas para identificar a Educação voltada para as crianças de 0 a 5 ou 6 anos de idade, conforme vem se revesando. Assim como as representações de infância pelo artista desenhista e pintor, Ivan Cruz, retratado aqui em algumas de suas muitas obras sobre o universo infantil, as Orientações Curriculares parecem não contribuir muito para o processo identitário da Educação Infantil no país. Afinal, deve-se ou não alfabetizar na Educação Infantil?

E se a resposta for positiva, para qual lugar vão as brincadeiras e as interações tão necessárias ao desenvolvimento integral da criança? Ou não é mais isso o que as crianças tanto necessitam para se desenvolverem como cidadãs para o mundo que, por sua vez, as aguarda ansiosamente para o exercício do consumo desenfreado?

Crianças, aos três, quatro ou cinco anos de idade, devem mesmo desenvolverem-se sentadas entre cadeiras e mesas, cerceadas por atividades repetitivas, enfadonhas e cansativas, dias e dias até que se alfabetizem, livrando o mundo das suas mazelas alfabetizatórias?



Mas e se não forem enfadonhas nem repetitivas as atividades? E se seguirmos os moldes das ideias inovadoras (nem tanto assim, sabemos disso!) do curso para Formação de Professores Alfabetizadores do MEC-BR/PNAIC - Programa Nacional para Alfabetização na Idade Certa? Ainda assim, devem as crianças de tenra idade abdicarem das suas criações imagéticas, suas fantasias poéticas e narrativas, para adentrar forçosamente no mundo das letras até que não consigam mais se relacionar com elas de forma prazerosa e eficaz?

O referido Programa do Governo Federal não fala em alfabetização aos 4 ou 5 anos, As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil também não, mas algumas Organizações mostram-nos todo o seu arsenal de guerra contra o analfabetismo, direcionando suas ações para a Educação Infantil, Ah, temos visto tantos e tantos exemplos do efeito alfabetização na idade incerta! Mas afinal, qual é a melhor idade para se alfabetizar? A melhor eu não sei, mas que aos três, quatro, cinco e seis anos a criança gosta mesmo é de brincar, disso eu tenho certeza!

Defendemos aqui, uma Educação Infantil que prime pelo Ser Criança em detrimento do Ser adulto em miniatura. E o Ser Criança precisa brincar e interagir muito para que seja capaz de construir bases firmes para a sua sociabilidade, para o encontro com o seu eu, e com o outro, sem competição, mas muita cooperação e solidariedade, além dos imprescindíveis eticidade, respeito e politização.

O Ser que se alfabetiza

Olá! Alguém aí que alfabetiza já parou para pensar na visão que tem sobre o sujeito da aprendizagem no processo de alfabetização?

Então, as nossas concepções sobre o ser Criança, o ser Jovem e o ser Adulto interferem em nossos encaminhamentos pedagógicos alfabetizadores. Algumas perguntas aguçam nossos sentidos para uma reflexão: o que é ser criança? O que é ser jovem? O que é ser adulto? O que entendemos por Alfabetização? Que seres humanos queremos formar? O que a Educação desde a tenra idade tem a ver com isso?

Turma Ed.Infantil - Escola Pública Municipal do Rio de Janeiro - 2014
Algumas referências para nos ajudar na construção dos nossos pensamentos:
1-Wikipédia: Criança: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crian%C3%A7a
2- Estudo acadêmico (UFJF): Infância, criança e diversidade - proposta e análise.  http://www.ufjf.br/virtu/files/2010/04/artigo-2a23.pdf
3-  Artigo científico: O que é ser criança? Da genética ao comportamento, João Gomes-Pedro (Faculdade de Medicina, Lisboa).  http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v22n1/v22n1a04.pdf


O leitor e o escritor da Era Digital

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Momentos gloriosos no Reino das Digitais. Já ouvi relato de mãe de bebê de um ano e meio que utiliza e bem seu tablet. Imaginem como chegará essa criaturinha aos bancos escolares para "alfabetizar-se"?

Nós, alfabetizadores, educadores, pais, mães, exercemos um papel essencial nesse novo mundo digitalizado. Não dá mais, nem que se insista, para atuar apenas como um “provedor de conteúdos/ informações”. Mas como ser um bom catalisador das reflexões e conexões dos aprendentes? O Alfabetiz...Ação em foco faz um convite a sua reflexão:

1. Quem é o principal intermediador entre o conhecimento e o aprendente, o professor, o próprio aluno ou outro?


2. Como ser um bom catalizador das múltiplas reflexões e conexões estabelecidas pelos aprendentes? E o que fazer com elas? 

3. Qual o papel do ensinante na era cibernética?





- Compartilhe aqui e para o mundo suas experiências educacionais na Era Digital!

Imagem disponível em:
http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/32/artigo123718-1.asp. Acessado em 22/11/2015.

Alfabetização e o texto como facilitador das construções de leitura e escrita

Sugestão de Atividades a partir da história "O pote de melado", de Mary e Eliardo França.

Diversas atividades foram desenvolvidas a partir da história, como:
  1. Leitura deleite/ compartilhada - o professor lê para o grupo ;
  2. Leitura com apontamento pelo professor - palavra a palavra (uso do projetor - bom quando se tem em sala de aula, ou blocão);
  3. Identificação de frases no texto (usamos o projetor, mas pode-se escrever a história num blocão);
  4. Montagem do texto da história por frases (trechos da história em dias alternados) - frases móveis;
  5. Montagem do texto da história por palavras (pequenos trechos da história em dias alternados) - palavras móveis;
  6. Composição coletiva do texto lacunado (ver imagem);
  7. Construção de listagem com nomes dos personagens da história;
  8. Produção coletiva: descrição das personagens;
  9. Jogo da memória com os nomes e os desenhos das personagens, com frases do texto,;
  10. Monta-monta dos nomes dos personagens: letra a letra (uso de letras móveis);
  11. Troca-troca de letras (móveis) para descoberta de novos paradigmas fonéticos e grafêmicos:  se trocarmos o P de POTE por B, qual palavras será formada? 
  12. Recontextualizações - recontando a história do nosso jeito;
  13. Formação de novas palavras partindo dos paradigmas das palavras estudadas - Que palavras começam como PO de POTE; e com P de POTE?
  14. Listagem de palavras "descobertas" - construção de vocabulário coletivo;
  15. Descobrindo significados: de onde vem o melado? Vamos pesquisar e anotar as nossas descobertas? De onde vem o pote? De qual material pode ser feito um pote? Como se faz um pote de barro? Que outros objetos podem ser feitos com barro? Vamos construir objetos usando argila? E que tal montarmos uma exposição? Huuummm, poderíamos oferecer uma degustação de melado durante a exposição...
  16. - E muitas outras!
E então, desenvolveu outras? Modificou alguma? Não deixe de compartilhar conosco!







Jogo da memória, identificação personagem x nomes, liga nome ao desenho



Texto Lacunado - montagem coletiva e individual






Releitura de trechos da história para remontagem textual
Releitura de trechos da história para remontagem textual


Montagem de palavras com letras móveis



Boas Inspirações a Todxs!

ESTADOS DE ESCRITA: contribuições à formação de professores alfabetizadores

Olá, companheirxs de caminhada Alfabetiz...Atória!



Vocês sabem que vivo zoiando daqui, dali e acolá a procura de subsídios para a minha própria prática alfabetizadora. O que encontro gosto de compartilhar com todxs porque acredito no potencial enriquecedor da troca, da partilha, seja na angústia, seja na alegria pedagógica. Então, permitam-me compartilhar esse trabalho lindo de uma excelente alfabetizadora, escritora, pesquisadora e professora da UERJ, a Prof. Dra. Paula da Silva Vidal Cid Lopes.

Sim, já falei dela por aqui, mas além de atualizadíssimos e estarem em constantes movimentos, seus estudos são mesmo cativantes e essenciais para qualquer prática que se pretende alfabetizadora.

Em seu recente trabalho de doutoramento, a Prof. Paula Cid Lopes nos brinda com sua tese intitulada ESTADOS DE ESCRITA: contribuições à formação de professores alfabetizadores, através do qual nos oferece contribuições teóricas ao campo de formação de professores, no que concerne à natureza dos diferentes tipos de fenômenos associados aos chamados “erros produtivos” observados na produção escrita de alfabetizandos em classes de Educação de Jovens e Adultos.

Conforme o resumo do seu próprio trabalho, os capítulos organizam-se em cinco partes:

1. os argumentos sociais que justificam a demanda por um melhor balizamento dos erros, compreendidos como fenômenos, que, uma vez conhecidos pelo professorado, passam a ser devidamente assistidos no processo de alfabetização;

2. a alfabetização, o letramento e a formação de conceitos essenciais na formação do professor;

3. os métodos e paradigmas para uma relação teoria prática na alfabetização;

4. o erro, entendido como um limite provisório e não um fator determinante e

5. a língua escrita nas práticas escolares.

Sua conclusão nos aponta para a reflexão sobre a questão da formação do professor por esta não oferecer "o suporte necessário para a compreensão da natureza dos estados de escrita dos alunos". Ela ainda nos diz que:
"esta ausência na formação pode também ser observada nos estudos nas áreas da Alfabetização e do Letramento, que dificilmente vão além de uma proposta político-pedagógica, não chegando a nenhum tipo de estrutura material observável na produção escrita do sujeito em processo de alfabetização ou de letramento. Muitas vezes, embora o professor tenha constante contato com as escritas de seus estudantes, não as conhece o suficiente para realizar as intervenções necessárias."
A superação do que a autora chama de reducionismo subjacente à noção de erro e a descrição de um conjunto de estados de escrita é sugerida a partir dos estudos realizados como forma de permitir ao professor a discriminação de comportamentos associados a diferentes momentos da alfabetização e do letramento, favorecendo a identificação dos tais comportamentos, caracterizando-os do ponto de vista linguístico e à luz dos diversos quanto os fatores que concorrem para sua incidência na produção de escrita dos alunos.

A Prof. Paula Cid Lopes, ainda, ressalta a necessidade da não interpretação do fenômeno como uma categorização com o objetivo de “modelar” comportamentos de escrita, mas sim da necessidade de compreensão da motivação da incidência dos erros dos alunos em contexto escolar de educação de jovens e adultos.

Acredito que a contribuição deste trabalho não se aplique apenas a Educação voltada para Jovens e Adultos, uma vez que os processos de leiturização e escritura se fundem, independentemente da público a que se destina.

CONHEÇA ESSE TRABALHO. CLIQUE AQUI!

Boa leitura a todxs e todxs!

Conhecer os erros na escrita para efetivar práticas coerentes de alfabetização de adultos - Prof. Dra. Paula da Silva Vidal Cid Lopes (UERJ)

Qual o lugar do erro nos processos de alfabetização e letramento?

O erro, entendido como um limite provisório e não um fator determinante é uma das contribuições na busca da compreensão do fenômeno que nos apavora enquanto Alfabetiz...AdorXs. Como lidar com as não-aprendizagens dos nossos alunos?
A Prof. Dra. Paula da Silva Cid Lopes (UERJ) através dos seus estudos oferece-nos contribuições ao campo teórico, e também prático pela sua larga experiência em alfabetização, no que concerne à natureza dos diferentes tipos de fenômenos associados aos chamados "erros produtivos" observados na produção escrita de alfabetizandos.


Em sua pesquisa, a Prof. Dra. Paula Cid Lopes trata dos temas:

a) os argumentos sociais que justificam a demanda por um melhor balizamento dos erros:
b) a alfabetização, o letramento e a formação de conceitos essenciais na formação do professor;
c) os métodos e paradigmas para uma relação teoria-prática na alfabetização;
d) o erro, entendido como um limite provisório e não um fator determinante;
e) a língua escrita nas práticas escolares. 

Segundo a pesquisadora, muitas vezes, embora o professor tenha constante contato com as escritas de seus estudantes, não as conhece o suficiente para realizar as intervenções necessárias. 

TENHA ACESSO AO CONTEÚDO COMPLETO EM: 

A CONCEPÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL DO “ERRO PRODUTIVO” E SEU IMPACTO SOBRE AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO EM EJA. Paula da Silva Vidal Cid Lopes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – FAPERJ


Veja mais. CLIQUE AQUI!


O sentido da Alfabetização

DIA INTERNACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO
8 DE SETEMBRO
ALFABETIZAR TODO DIA!



Segundo a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) a alfabetização é um direito humano fundamental e as bases para a aprendizagem ao longo da vida. Ele é totalmente essencial para o desenvolvimento social e humano na sua capacidade de transformar vidas. Para os indivíduos, famílias e sociedades da mesma forma, é um instrumento de capacitação para melhorar a sua saúde, sua renda, e sua relação com o mundo.

Os usos da alfabetização para o intercâmbio de conhecimentos estão em constante evolução, juntamente com os avanços da tecnologia. A partir da Internet para mensagens de texto, a disponibilidade cada vez maior de comunicação contribui para uma maior participação social e política. A comunidade alfabetizada é uma comunidade dinâmica, uma que troca idéias e se engaja em debate. O analfabetismo, no entanto, é um obstáculo para uma melhor qualidade de vida, e pode até mesmo produzir exclusão e violência.

Mas e nós, brasileiros, como vamos nos nossos fazeres alfabetizadores? Todos sabemos que é grande ainda o desafio de alfabetizar as pessoas nas idades próprias para que isso ocorra. A criança nasce num mundo letrado e se apropria dele de diversas formas. A alfabetização é uma dessas apropriações e que é capaz de viabilizar as suas interações de comunicação com este mundo, para ele e através dele, tornando essas pluri-interações cada vez mais eficazes e eficientes.

E por onde começar então? Diversos são os caminhos, mas é preciso saber onde se quer chegar. Reflexão x Ação x Reflexão x Ação reflexiva. Ah, afeto é fundamental, mas só ele não dá conta é preciso conhecer os sujeitos da aprendizagem, para oferecer-lhe objeto de mais adequado de aprendizagem, de valor para a vida.

Então bora nessa! Mãos à Alfabetiz...Ação!

Boas Inspirações a todos e todas!

__________
http://www.unesco.org/new/en/education/themes/education-building-blocks/literacy/. Acesso em 11/09/2015.

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