Resgatando as tradições indígenas sem mitificar a história

19 de abril
Dia do Índio

A história dos povos indígenas no Brasil não pode ser resumida aos seus costumes de séculos passados, até porque, hoje em dia muitos deles não existem mais. Penso que apenas pintar e vestir as crianças com penas e chocalhos não contribui para trazer a tona o sentido desse dia. Menos ainda, desperta o respeito por um povo "estraçalhado" por nossa história de colonização. Temos que refletir e tentar não falar dos índios como um mito, uma lenda, ou algo muito distante de nós. Afinal, os índios ainda vi(sobre)vem!

No nosso país, os índios brigaram muito pelos seus direitos, principalmente o direito às terras que já eram suas. Eles também não se deixaram escravizar e tiveram que pagar com a própria vida essa resistência. Hoje, ainda lutam para sobreviverem. (...)

A Escola dos meus sonhos...

(Frei Beto e Paulo Freire)

Na escola dos meus sonhos... Os alunos aprendem a cozinhar, costurar, a consertar eletrodomésticos, fazer pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas, conhecer mecânica de automóvel e de geladeira e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficina de escultura, desenho, pintura e música. Cantam no coral e tocam na orquestra.

Uma semana por ano integram-se na cidade, ao trabalho de lixeiros, enfermeiros, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim, aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que, à superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação.

Não há temas tabus. Todas as situações-limite da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o texto dentro do contexto: a Matemática busca exemplos na corrupção dos relatórios e nos leilões das privatizações; o Português, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais; a Geografia, nos suplementos de turismo e nos conflitos internacionais; a Física, nas corridas de Fórmula I e pesquisas do supertelescópio Huble; a Química, na qualidade dos cosméticos e na culinária; a História, na violência de policiais e cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores-índios, senhores e escravos, etc.

Cidadão em vez de consumidores: na escola dos meus sonhos... a interdisciplinaridade permite que os professores de Biologia e de Educação Física se complementem;a multiplicinaridade faz com que a História do Livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e de dança; e associa a História da Arte à história das ideologias e das expressões litúrgicas.




Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino fala do judaísmo; o pai-de-santo do candomblé; o padre do catolicismo; o médium do espiritismo; o pastor do protestantismo; o guru do budismo etc. Se for católica há periódicos retiros espirituais e adequação do currículo ao calendário litúrgico da igreja.

Na escola dos meus sonhos... os professores são obrigados a fazer periódicos treinamentos e cursos de capacitação, e só são admitidos se, além da competência, comungam com os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática. Porque Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.

Ela não briga coma TV, mas a leva para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto adquirido; sua química analisada e comparada coma fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente; a visão de felicidade; a relação animador platéia; os tabus e preconceitos reforçados etc. Em suma, não se fecha os olhos à realidade: muda-se a ótica de encará-la.

Há uma integração entre escola, família e sociedade. A política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e um mês por ano setores não vitais da Instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados e comparados ás suas práticas.

Direito Universal: não há provas baseadas no prodígio da memória nem a sorte da múltipla escolha. Não há coincidências entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.

É mais importante educar, que instruir; formar pessoas, que profissionais; ensinar a mudar o mundo, que ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade de corpo-espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.

Na escola dos meus sonhos... os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para poderem se manter. Pois é a escola de uma sociedade onde educação não é privilégio, mas direito universal e, o acesso a ela, dever obrigatório.


(Frei Beto é escritor e co-autor, com Paulo Freire, de “Essa Escola chamada vida”,

publicado pela Editora Àtica. In: Jornal da Cidadania, fevereiro de 1999).


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