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Trabalhando a Escrita de Textos Instrucionais: regras de brincadeiras

Quem não gosta de uma boa brincadeira? E não vai dizer que brincadeira é coisa só de criança. Agora imagine transformar esse momento tão alegre e discontraído em conteúdo de aprendizagem em sala de aula. Sim, é possível e bastante produtivo.

Discutir as regras de um determinado jogo nem sempre é tarefa fácil se considerarmos a diversidade cultural imbutida nos mesmos. No entanto, é um excelente começo de conversa para se trabalhar com a questão das normas de conduta e regras para o convívio em grupo e o quanto antes essa discussão é iniciada, melhor será a participação dos seus integrantes dentro dele. Que tal a sugestão de um passo a passo?

Para uma melhor compreensão do fracasso e do sucesso escolar vi

O SABER E O NÃO SABER


“ - Ah, tia. Eu ainda não sei escrever! ”
“ - Eu não sei escrever! ”


Frases como estas são comumente ouvidas das crianças que são submetidas a um processo puramente mecânico de aprendizagem da leitura e escrita.

Neste processo a criança fica impossibilitada de experimentar e, portanto, amedrontada, não vê lugar para o erro. As respostas já foram dadas e não é preciso refletir sobre elas. E basta memorizá-las.

Acaba pisando numa mina explosiva aquele aluno que não consegue “guardar” tudo, exatamente como lhe foi mostrado. Aquele que não consegue lembrar, que sofre da memória, é o que “ não sabe “ e, por isto, é um fracassado.

Os que conseguem trazer à lembrança o “ba, be, bi, bo, bu” - sem nos esquecermos do "bão", claro - vão aos poucos se convencendo de sua superioridade, de sua inteligência, de seus dons naturais para alcançar altas posições na sociedade hierarquizada sócioeconomicamente.

Possuindo o conhecimento – aquele esperado pela escola – esses alunos se tornam detentores do poder. “ O saber que possuem é confirmado na escola e os resultados escolares antecipam seu sucesso na vida social (Esteban, 1991).

Precisamos refletir  sempre sobre o que estamos oferecendo aos nossos alunos. E, mais importante ainda, o que farão com aquilo que lhes ofertamos.

E o que acontece com aqueles que não memorizam de forma mecanizada?



Escrita como meio de satisfação pessoal

Olá, pra toda essa gente boa que nos acompanha!

Escrever é bom demais, blogar, melhor ainda! Aprendo tanto com esse troca-troca. M'Alma se enche de alegria ao receber carinhosos comentários.

Um contentamento que me faz pensar naqueles  que desconhecem essa poderosa ferramenta - a ESCRITA. Sim, ainda hoje, inúmeras pessoas convivem a margem de todo esse aparato tecnológico, como as mídias e redes sociais, e distantes daquilo que, ao meu e aos seus olhares, é tão rudimentar, como a escrita com lápis ou caneta em papel.

Caramba, por vezes me percebo completamente louca por me preocupar com essas coisas.

Que tenho eu a ver com toda essa gente que não sabe escrever, nem ler, é claro? Tenho a minha vidinha, vidinha mesmo, leio o que quero (hoje sou minha própria bússola na escolha do caminho a escolher para me alimentar de saberes) e escrevo quando quero, e melhor ainda, O QUE QUERO (claro que não é tanto assim, como bem sabemos. Afinal a DITADURA, névoa mundial, ainda nos ronda. Sem contar a tal da DIPLOMACIA, que confesso não saber utilizar como me sugerem).

Por que então, deixar que esse pensamento me invada a alma? Será por que gosto tanto de ler, quanto de escrever? Será que sinto falta das escrituras dessa gente? O que será que elas teriam a me dizer? Será mesmo que sejam tão incapazes de aprender?

Talvez pense no quanto de contribuição poderiam dar a esse bloguinho, aspirante a gente nesse Blogsplanet, cada vez mais encantador.

E com o que essa gente se preocuparia? Com a quantidade e a qualidade daquilo que escreveriam ou leriam? Que recados nos enviariam?

E vocês, caros leitores, escritores, com o que se preocupam? O que ocupa sua alma?


Educação Popular na atualidade: análise das possibilidades e dos desencontros


"Tornar a escola popular não implica torná-la substancialmente diferente da escola das elites; é esta a escola que as classes populares querem arrancar do Estado, submetendo-a à sua critica sem deteriorar sua qualidade nem abdicar do seu conteúdo".
Vanilda Paiva
Na crença de que a história não chegou ao fim, que o ideal de construção de uma sociedade mais bela em sua essência continua vivo, a EP aqui já tratada através de outro post procura constituir-se como uma possibilidade alternativa para a educação de jovens e adultos.

Concebemos que a educação por si mesma, sozinha, não é capaz de transformar. No entanto, sem considerá-la, não se consolidará a conscientização das massas pela sua opressão e também da elite pela necessidade de torná-la menos opressora e mais solidária. 


Falar de EP atualmente, significa considerar a realidade social concreta como ponto de partida para um ato de educar que gera felicidade a todos – alunos, professores, escola, sociedade, mundo. Mas essa mesma realidade, tão abordada nas últimas décadas, tornou-se “chavão” em qualquer programa ou projeto pedagógico. Sabemos o quão distanciada das práticas educativas ela se encontra.
Cabe aqui um convite para encararmos o desafio de “olhar” a realidade, enxergá-la de fato e buscar nela, e através dela, as ferramentas que necessitamos para ensinar os indivíduos, frutos dessa realidade, a ler, escrever e revertê-la para o bem de todos.
A divisão social da população parece cada vez mais solidificada, mostrando-se forte e presenteira em meio à imensa desigualdade sócio-econômica entre as classes sociais. A exploração e os mecanismos autoritários pelos quais os trabalhadores de baixa renda eram submetidos ainda prevalecem.

História e Geografia: integração a favor da alfabetização?

Por: Valéria Rosa Poubell
Trabalho do Curso de Pós-graduação da UNESA/ 2007 - Alfabetização: concepções e perspectivas


A Geografia não é mais que a História no espaço.
Reclus

O mundo em que vivemos é marcado pela sobrevivência como um desafio constante, face ao acelerado crescimento do desenvolvimento tecnológico com o qual convivemos. Temas como alimentos transgênicos, globalização, aquecimento do planeta, altos índices de desemprego, baixos salários daqueles que estão empregados, dentre outros percalços sociais, são veiculados numa velocidade inassimilável, dado o volume de informações disponibilizadas pelos meios de comunicação de massa e drasticamente alterados com a popularização da Internet.
(Imagem disponível na Web)
Voltando-se o olhar para o objetivo que movimenta a escrita deste texto – pensar a integração das disciplinas de história e geografia na educação de crianças, jovens e adultos, somos levados a pensar nos objetivos atuais do ensino das referidas disciplinas. E assim, buscar, selecionar e organizar conteúdos que atendam aos objetivos propostos. Mas é importante que se atente para a significação e a aplicabilidade destes conteúdos na vida cotidiana dos educandos.

Alfabetização e Educação Popular: opção para a atualidade?

Aspectos ideológicos e metodológicos
“Com muitas ilusões, mas com enorme esperança, tentaram-se caminhos novos ou reconstruíram-se caminhos antigos. O que houve de certo e errado só a história pode dizer. E quase nos foi negada a possibilidade de conhecer a história”. Osmar Fávero
Paulo Freire, como representante notável frente às lutas populares que se travaram inicialmente na América Latina, teve uma ação internacional, “graças” a sua situação de exilado. Suas ações carregaram em si a concepção de educação como emancipadora do popular e contribuíram para a consolidação de um grande número de grupos e organizações favoráveis a defesa dos marginalizados e excluídos.

Segundo estudo de (ALMEIDA, 1988) o ato de educar em EP significava, no início dos anos 60, atuar frente a grupos variados em seus interesses: o indivíduo que buscava aulas de alfabetização nos acampamentos, as mulheres que participavam de clubes de mães, sócios nas sociedades de bairros, membros das igrejas, grupos de trabalho específico, dentre outros. Mas como podemos compreender a base de todo o processo de alfabetização em Educação Popular da época?

Consciência Fonológica: pré-requisito para a alfabetização?


O título desta postagem foi o tema do último Fórum de Alfabetização, na Unirio, ontem. Manhã maravilhosa, encantadora, desequilibrante, como todas que são oferecidas pelas pessoas do Grupalfa. E que pessoas são essas? Nossa, sem palavras...

Fui desmontada em meus preceitos, mas acalentada pelas informações: dados para a reflexão. Penso que não estou tão distante assim daquilo que educadores que sonham uma sociedade mais justa, de fato, onde a educação contribui para a verdadeira emancipação dos indivíduos - sejam eles pertencentes a qualquer camada sóciocultural e econômica - almejam.

De tudo e muito mais, aprendi que consciência fonológica, sim, mas sem o blá blá blá da sílabação pela simples silabação, ainda que se possa chegar lá. Mas por outro caminho, mais seguro e humano para o aprendente.

Quero escrever mais sobre isso, mas ainda estou organizando as idéias. Quer refletir comigo sobre isso? Envie suas idéias, dúvidas... Vamos pesquisar juntos.

ABRAÇOS CARINHOSOS A TODOS E TODAS!


Cartilha ou cartilhar?



A leitura do trabalho de Pesquisa, realizada com apoio do CNPQ, “as práticas cotidianas de alfabetização: o que fazem as professoras?”, que recomendo a todos os leitores (disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n38/05.pdf, e acessado em outubro do corrente ano), me fez pensar muito na minha sala de aula. E confesso que na do vizinho também. Foi uma espécie de auto-avaliação coletiva, mas a partir de um só sujeito. Valendo-me da máxima “estranho se não fosse trágico”, fiquei horas imaginando a forma como encaminho a minha prática alfabetizadora. E apenas com os botões por perto, lembrei-me do quanto o ensino mudou.
Se avançamos, não sei dizer. O fato é que nadamos, nadamos, mas vamos morrendo, pouco a pouco, ou de uma vez só, na praia de Ramos. Os índices continuam os mesmos, ainda que tentemos disfarçá-los. O monstro assustador da evasão perdeu força a partir dos programas do governo, mas ressurge faceiramente quando lá na frente estes já não o aprazem.
Pensei com os meus joelhos, dobrados sobre o sofá, nos textos literários que hoje usamos. Sim, claro, nós mudamos! Alfabetizamos através de textos. E os textos são variados. Lá estão os jornalísticos, os poéticos, os utilizados em cartazes (hã, hã! Desculpem-me, mas deu uma coceirinha na minha garganta...). Mas vamos lá! Em nossas salas de aula tem também os textos narrativos, os convites, os contos, as crônicas (hã, hã! De novo!). Sim eles sãos os mais variados possíveis. E o que fazemos com todos eles? E o que você, caro leitor deste espaço aspirante a Blog, faz com todos esses textos em sua sala de aula?
Com o nosso bom ar de modernos e antenados, vamos destrinchando os belos aportes textuais em palavras, letras e sílabas. “Cartilhamos sem utilizar uma cartilhazinha sequer”! Simplesmente, como nos aponta a pesquisadora, retalhamos o texto. O reduzimos a pó.
Não, não estou com saudade daquele tempo. Daquele tempo que “era bom” e que “todo mundo aprendia”, menos a torcida do Flamengo, é claro! E só para deixar CLARO, ela não aprendia porque era oriunda de família pobre, desestruturada, tadinha; ou então era porque não aprendia mesmo, coita... diiinha. Não estou com saudade desse tempo, mas não estou gostando de viver neste tempo aqui. Tempo que “sisi”. “sisentimos modernos!
Boas inspirações a todos!

Produção Textual na alfabetização II


Como motivar a produção de texto mesmo na fase inicial da alfabetização?

Projeto Literatura O menino Poti, Ana Maria Machado
Projeto Alimentação Saudável I
Projeto Alimentação Saudável II














Complementando a reflexão sugerida no último “post”, compartilho com vocês, meus preciosos leitores, sugestão de prática pedagógica baseada na Epilinguística (não se assustem com o nome! rs...), proposta pelo Grupo de Pesquisa e Formação de Professores, já citado em outros “posts” – O PROFA. Degustem, e bom apetite, assim como eu tive.

Reescrita de textos, de narrativas - Esta é uma boa atividade, porque se o aluno ouviu a história e tem a possibilidade de recontá-la e depois reescrevê-la ele terá que escrever, na verdade, uma nova história, pois no recontar e reescrever o aluno apresenta os aspectos que ele considerou mais importantes na narrativa, e além do mais terá que ajustar o que se fala, produz, com a escrita. São vários os desafios para um aluno neste tipo de atividade.

Mas infelizmente vemos no cotidiano escolar poucas atividades assim, alguns profissionais utilizam a história para escrever apenas palavras-chaves, outros para corrigir ortografia, mas pouco se viu intervenções para trabalhar a coesão e coerência textual, até porque boa parte dos professores acham que são atividades demoradas, que os alunos não estão acostumados, ou os alunos ainda não dominam o sistema de escrita, então não conseguem escrever o texto, (já vimos que isso não procede) e com isso há pouco investimento nestas atividades e com certeza uma grande perda para os alunos, pois é uma boa atividade para o professor revisar estes textos com os alunos e ajudá-los, cada vez mais.

Resgatando as tradições indígenas sem mitificar a história

19 de abril
Dia do Índio

A história dos povos indígenas no Brasil não pode ser resumida aos seus costumes de séculos passados, até porque, hoje em dia muitos deles não existem mais. Penso que apenas pintar e vestir as crianças com penas e chocalhos não contribui para trazer a tona o sentido desse dia. Menos ainda, desperta o respeito por um povo "estraçalhado" por nossa história de colonização. Temos que refletir e tentar não falar dos índios como um mito, uma lenda, ou algo muito distante de nós. Afinal, os índios ainda vi(sobre)vem!

No nosso país, os índios brigaram muito pelos seus direitos, principalmente o direito às terras que já eram suas. Eles também não se deixaram escravizar e tiveram que pagar com a própria vida essa resistência. Hoje, ainda lutam para sobreviverem. (...)

Alfabetização: letra de imprensa x letra cursiva

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Muitos de nós, alfabetizadores, sentimo-nos inseguros acerca da escolha do tipo de letra a ser usado na alfabetização: Letra Cursiva ou Letra Bastão (ou Imprensa)? Chegamos a divergir em defesa daquilo que acreditamos ser o melhor caminho a ser trilhado pela criança. Sem sombra de dúvida, ainda voto no bom senso para que tal escolha aconteça de forma a garantir o sucesso real de todos rumo ao letramento tão exigido no mundo atual. 




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Pensemos e concordemos que a letra cursiva apresenta um grau de dificuldade, em seu traçado propriamente dito, maior que a bastão ou imprensa, como também é chamada, mesmo em se tratando de crianças de um nível mais avançado. Ela é mais cansativa pra quem está aprendendo e, por isso, despende um tempo muito maior para a atividade de escrita. No entanto, a dificuldade varia de criança para criança.

 

Penso que o processo de aprendizagem é suavizado quando se introduz o uso da letra bastão no início do processo de alfabetização e a manuscrita somente após a alfabetização concretizada (codificação e decodificação - leiturização). Acredito também que se a criança for bem estimulada, emocional e afetivamente, ela se desenvolverá bem independente de qualquer obstáculo.


Para elucidar e aprofundar um pouco mais esse assunto, busquei nas idéias de especialistas no assunto, um começo para as nossas reflexões. Primeiramente, apresento um quadro comparativo, bastante divulgado pela web, a seguir texto adaptado por mim baseado nas ideias de duas psicopedagogas, do Rio Grande do Sul, finalizando com ideias e opiniões de pais e educadores compartilhadas a partir da reportagem publicada na Revista Nova Escola (n. 217/ 2008).

Vejamos então cada uma dessas reflexões:

1- Quadro Comparativo - Tipos de Letras usadas na Alfabetização.


(Clique na imagem para melhor visualização)

2- O que dizem os especialistas sobre o assunto?

(Adaptado de Janaína Albani Dias* e Renata Brogni da Silva**)

Com o passar dos tempos torna-se cada vez mais importante a crescente preocupação com relação à alfabetização. Governo, educadores, escolas e pais unem-se para que cada vez mais, tenhamos crianças bem alfabetizadas, formadas e tornando-se, futuramente, cidadãos críticos e profissionais qualificados. 

A atenção com as classes de alfabetização é um dos pontos mais relevantes e considerados pela educação atual, pois é a base para toda a vida escolar do ser humano. É também nestas classes que os alunos tomam “gosto” pelo estudo. Desta forma, se a atividade escolar não for prazerosa, motivadora e se os professores não tornarem a educação, em especial a alfabetização, uma prática agradável, as chances dos alunos desanimarem e desapontarem-se é bastante grande. 

A real preocupação com a alfabetização surgiu com o renascimento (século XV e XVI), uma vez que eram publicados livros para um público bem maior e a leitura deixou de ser coletiva e passou mais individual. Como conseqüência da preocupação com a alfabetização surgem as primeiras “cartilhas”, com o objetivo único de dar ênfase a leitura. 

Depois de 1950 a cartilha passou por uma grande transformação, objetivando, a partir de então, a escrita dos alunos. Atualmente, a prática escolar adotada, ainda baseia-se na cartilha tradicional. Porém, conforme afirma cagliari (1999, p. 31): “O processo de alfabetização pode ser diferente do método das cartilhas, procurando equilibrar o processo de ensino com o de aprendizagem, apostando na capacidade de todos os alunos para aprender a ler e escrever no primeiro ano escolar e desejando que essa habilidade se desenvolva nas séries seguintes, até chegar ao amadurecimento esperado pela escola”. 

A escola, nos últimos anos, foi bastante surpreendida pelas inovações dos campos da ciência e da tecnologia. Com esses avanços, muitas teorias acerca da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo, da leitura, da escrita e da alfabetização foram sendo complementadas, discutidas e reconstruídas necessitando trazer consigo reformulações dos métodos educacionais. 

Gostaría de salientar a relevância deste artigo para a educação, por ser este um assunto bastante polêmico entre professores. Assim, espero que contribua e auxilie os professores alfabetizadores para que melhor desempenhem seu trabalho. Considerada uma questão bastante complicada e duvidosa, muitos professores não sabem que tipo de letra utilizar para alfabetizar de forma mais eficaz os seus aprendizes. Afinal, qual a melhor letra para quem está começando a aprender a ler e escrever? Bastão ou Cursiva?

Pensando nessas mudanças, questiono: será que além de todas as dificuldades que os alunos já enfrentam no início do processo de alfabetização, eles têm a necessidade de aprender a ler e escrever a letra cursiva, cuja sua utilização nos tempos atuais encontra-se quase que exclusivamente na escola? Não a encontramos em nenhum outro lugar no contexto social a não ser nas cartas (cada vez mais cedendo espaço aos emails escritos com letra de forma) ou bilhetes.

Porque a maioria dos professores continuam trabalhando com a letra cursiva, exigindo esta aprendizagem, muitas vezes como critério de aprovação? Em função desta contradição (aprendizagem em letra cursiva X contexto social em letra bastão), identificamos a necessidade de uma pesquisa aprofundada, já que na literatura atual não há quase nada que se refira diretamente a este assunto. 

Como o objetivo da escola deve ser o de preparar cidadãos críticos capaz de transformar a realidade em que vivem para melhor, a proposta de alfabetização deve naturalmente adequar-se às exigências da atualidade. Realidade esta, em que a letra bastão esta presente em todos os momentos da vida de uma criança: em livros, televisão, revista, jornais, embalagens, rótulos, cartazes nas ruas, no teclado do computador. Ficando a escola como um dos únicos espaços sociais onde se privilegia a escrita com letra cursiva.

Muitos educadores dedicam parte do seu tempo treinando o alfabeto manuscrito com seus alunos, apesar de viverem num mundo onde a letra de forma é dominante. Desta forma, percebe-se uma grande perda de tempo e esforço por parte dos alunos e professores que tentam insistentemente a grafia da letra cursiva. Tempo este que poderia e deveria ser melhor aproveitado, com atividades desafiadoras, com objetivos reais para a necessidade de crescimento de seus alunos. 

Percebe-se então, a dificuldade com que se defrontam estas crianças, que recém aprendendo a ler e escrever deparam-se com obstáculos criados e na maioria das vezes impostos pela própria escola que obriga seus alunos a utilizar a letra cursiva já no início da aprendizagem da leitura e escrita, sendo em muitos casos um inibidor de avanços e desmotivador, podendo trazer conseqüências bastante sérias e graves, como, por exemplo, o fracasso escolar. 

Segundo ferreiro, (apud nova escola, 1996, p. 11) começar a alfabetização com letra bastão é uma tentativa de respeitar a seqüência do desenvolvimento visual e motor da criança. 

No entanto, em vez dos professores despenderem a energia de seus alunos no aprendizado da letra cursiva, poderiam utilizá-la para outras atividades mais importantes e necessárias para a vida dos alunos, como por exemplo: leituras diversificadas, jogos, brincadeiras ou músicas.

3- Ideias e Opiniões de Pais e Educadores sobre a questão
" - POR QUE AS CRIANÇAS DEVEM APRENDER A ESCREVER COM LETRA DE FÔRMA PARA DEPOIS PASSAR PARA A CURSIVA?"

Questionamento feito à Revista Nova Escola a partir da sua reportagem, da Edição n. 217, de novembro de 2008, respondido por Cristiane Pelissari, selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Esta escolha está relacionada ao processo de construção das hipóteses da escrita. Durante a alfabetização inicial, os pequenos trabalham pensando quais e quantas letras são necessárias para escrever as palavras. As letras de fôrma maiúsculas são as ideais para essa tarefa, já que são caracteres isolados e com traçado simples - diferentemente das cursivas, emendadas umas às outras. O aprendizado das chamadas "letras de mão" deve ser trabalhado com crianças alfabéticas, que já têm a lógica do sistema de escrita organizada. Antes de estarem alfabetizadas, elas entram em contato naturalmente com as letras cursivas e as de fôrma minúscula e até podem ser apresentadas a elas, desde que tal contato fique restrito à leitura.

*Janaína Albani Dias - Pedagoga; Especialista em alfabetização; Psicopedagoga; Professora alfabetizadora da rede pública Municipal da cidade de Gravataí/RS.
**Renata Brogni da Silva - Pedagoga; Especialista em alfabetização;
Diretora de Escola de Educação Infantil do Município de Eldorado do Sul/RS.

3.1- Comentários dos leitores - Pais e Educadores (identidades preservadas nesse espaço)

G. Faustino - Postado em 17/10/2010 16:14: 31
Entendo e sempre deu certo em minhas práticas que as crianças precisam entender a escrita, estar lendo ao menos silabas, para depois escrever letra cursiva, mas o que me preocupa são as grafias de muitos professores que não ajudam nesse processo, pois o aluno tem que ter referencia para essa grafia, e muitas vezes ficam confusos com a letra do próprio professor que precisa ter letra pedagógica para ajudar os alunos nessa transição, que para o aluno acontece naturalmente e com sucesso se não for simplesmente imposto, isso porque ele já traz de casa uma bagagem sobre esta escrita. 

MBS. Sales - Postado em 01/10/2010 22:05: 03 
Gostaria de ler textos de especialistas que discuta o uso da letra cursiva ou bastão nos espaços de educação infantil. A criança está em formação, acredito que ela possa ser apresentada aos diversos tipos de escrita, com diferentes portadores de texto. Mas os cartazes, informativos em geral, devem ser necessariamente em letra de forma? 

L. Bambino - Postado em 15/04/2010 13:38: 52 
Por que as crianças devem aprender a letra cursiva? Este tipo de letra somente é usado na escola, uma vez que o que mais vemos (livros, jornais, revistas, propagandas, bulas de remédio, rótulos de produtos, etc...) é a escrita do tipo Bastão (fôrma). A letra cursiva é mais difícil de ser aprendida, principalmente para aquelas crianças que tem algum tipo de dificuldade. As letras emendam umas nas outras, dificultando o processo de leitura. O objetivo da escrita é o de comunicar algo e o tipo de letra pouco importa. A comunicação acontecendo é o que de fato deveria ser levado em conta. 

JCM.Versiani - Postado em 13/04/2010 11:24: 28 
Na verdade gostaria de saber que implicações terão caso o aluno chegue ao 8º ano ainda sem seguir fazer letra cursiva e como fazer para resolver esta situação, ou seja, ensinar o aluno a letra cursiva nesta série. 

AMG. Ferraz - Postado em 09/07/2009 13:30: 22 
Caros colegas, a minha pergunta é um pouco diferente. Por que as crianças precisam aprender a escrever a letra cursiva? Isso após a alfabetização torna-se algo inerente aos alunos que sentem a necessidade da letra cursiva, aos que não sentem continuam com a letra bastão, ou até misturam, fazem uma "dobradinha" das letras, coisa que vemos muito com os alunos que chegam ao ensino fundamental II, e nós professores não cobramos desses alunos a letra cursiva perfeita, somente o conteúdo correto. E o adulto? Especialmente os que trabalham em profissões técnicas, utilizam muito a letra bastão, ou ainda melhor agora na era virtual, a comunicação é através dos nossos msn's, e-mails. Então qual é mesmo a finalidade da letra cursiva? 

JC.Malheiros - Postado em 31/03/2009 12:00: 59 
Quando eu comecei a entender a construção das hipóteses de escrita e a realização adequada de uma sondagem para identificar os níveis de escrita, percebi que a letra de fôrma maiúscula é fundamental para desenvolver o processo de alfabetização, pois quando eu trabalhava em outras séries tinha uma visão equivocada. 

RMG.Silva - Postado em 28/03/2009 00:00: 00 
Concordo com a opinião de nossa amiga Júlia Almeida, contudo acredito que as crianças, após compreenderem o sistema de escrita, devem ter contato com todos os tipos de letras, porém não se deve impor a criança o tipo de letras que deve utilizar (o que acontece muito na escola, em relação à letra cursiva) e sim dar a liberdade de utilizar da letra que encontrar mais facilidade ou que mais lhe convir. Levar a criança a conhecer todos os tipos de letras é um dever da escola, qual letra utilizar é uma escolha do indivíduo. 

R. Gomes - Postado em 23/03/2009 00:00: 00 
A letra cursiva é complicada, é agarradinha e confusa (é mais pessoal) para entender o que o outro escreve, por exemplo, quando um adulto já alfabetizado escreve para outro adulto alfabetizado ler ,ele vai encontrar muita dificuldade para entender a sua letra. Se para uma pessoa já alfabetizada é complicado, imagine para uma criança no início da alfabetização, por isso é muito mais fácil para a criança aprender a ler com a letra de fôrma maiúscula.

BOA LEITURA E BONS ENCAMINHAMENTOS!

(*) Créditos das Imagens:

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPmLmyHBtv5ahkOfDzoXughBxciIYLLeLKr-oM3qiWNECFGivHO5ULWNe-hEeUdT3EOypY-5Q26EZZ1cBMQSQIft8m88qjRdPtziai6zADSXiAnRCBOh_G65rb5aLbtiMRCidqkN077oPT/s1600/Tipo+Letras.jpg

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ADRIANA, Vera e Silva. Bastão X Cursiva, os prós e os contras de cada letra na alfabetização. São Paulo: Ed. Abril, n. 99, XI, p. 8-16, dez 1996. 

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização sem o ba, be, bi, bo, bu. Pensamento e ação no magistério. São Paulo: Editora Scipione, 1999.

Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF.1997

Revista Nova escola: Entrevista realizada com Emilia Ferreiro: 1996. p. 11.

Língua Portuguesa e Alfabetização - ponto e contraponto

[Trabalho apresentado no Curso de Pós-graduação em Alfabetização - UNESA/ 2007]

“Nós, professores alfabetizadores, precisamos perceber a competência e a criatividade que possuímos. Construir, cotidianamente, uma escola que alfabetize a todos, não é tarefa fácil, mas é possível”. Carmen S. Sampaio

E a Língua como vai?

Nossas salas de aula apresentam-se com inúmeros desafios para nós - professores. Lá nos deparamos com multiculturas, histórias de vida das mais variadas possíveis, alunos com níveis diferenciados de aprendizagem. E como lidar com tudo isso e muito mais?

Pensar o ensino de Língua Portuguesa requer uma compreensão da magnitude das questões que ora se apresentam: Para que ensinar a Língua Portuguesa? Para quem ensinar a língua? Como ensinar Língua Portuguesa? O que ensinar em Língua Portuguesa? A quem cabe ensinar Língua Portuguesa? Pode ser que pretendemos reinventar a roda, mas por que não, se esta como se encontra, já não atende às nossas necessidades?

Muito se tem falado sobre a importância da interdisciplinaridade, e até mesmo da multidisciplinaridade e transdisciplinaridade nas diversas áreas do ensino, mas como fazer para exercê-las? Mas em que dimensões da Língua Portuguesa estes fatores se encaixam?

Marcado pela sobrevivência como um desafio constante, é o mundo em que vivemos, face ao acelerado crescimento do desenvolvimento tecnológico com o qual convivemos. Temas como alimentos transgênicos, altos índices de desemprego, baixos salários daqueles que estão empregados, dentre outros percalços sociais são veiculados numa velocidade inassimilável, dado o volume de informações disponibilizadas pelos meios de comunicação de massa e drasticamente alterados com a popularização da Internet.

Temos então, diante dos nossos olhos – considerados mais “apurados” por sermos ledores e letrados – uma realidade multifacetada, complexa e desafiadora. Diante do exposto, uma educação voltada para emancipação dos indivíduos, entendendo isto como fazer com que o individuo saiba ler, selecionar, organizar e decidir autonomamente os rumos para sua vida e sua sociedade, navegando no emaranhado de informações veiculadas pela mídia – deve prioritariamente pautar-se na concretude da formação destes indivíduos, ou seja, os liames do percurso pedagógico. E que se distancie do modelo tradicional conteudista, ineficaz face aos novos desafios apresentados neste início de milênio.

A escola ganha, nesse processo de reconstrução de significados, uma importância fenomenal, uma vez que precisa instrumentalizar os alunos com competências para analisar, discutir entre os seus pares, identificar, selecionar e organizar ações eficazes para a transformação da sociedade na qual está inserido.

Desta forma, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que contempla, de maneira articulada e simultânea, os conteúdos das disciplinas das diferentes áreas do ensino. Por que não ensinar Ciências, por exemplo, numa aula de Língua Portuguesa? Lançar mão do texto cientifico, propor leituras, interpretações, estudo de determinado aspecto da língua, pesquisas... suscitar o desejo de aprender mais? E numa contramão, numa aula de Ciências não se poderia ensinar Língua Portuguesa? Que tipologia textual encontramos num texto cientifico?

É comum encontrarmos alunos que passaram pela escola, aprenderam técnicas de decifração do código escrito e que até são capazes de ler textos simples, curtos, mas que não conseguem depreender do mesmo o seu sentido global. Para onde caminhou o ensino da língua? Mecanização? Decoração de regras gramaticais? Onde foi parar o sentido daquilo que se lê?

A função social da leitura e da escrita no mundo de hoje perpassa pela capacidade dos educandos/ indivíduos interpostos em sociedade, em lidar com situações do cotidiano, mas também fora dele, de forma consciente, e principalmente, autônoma, crítica.

Muito além de ensinar conteúdos programáticos, cabe ao educador tomar decisões. Decidir a partir da realidade que lhe foi posta, (ou imposta) para agir eficaz e eficientemente nela. E pensar:
- Para onde quero ir?
- O que desejam aqueles que caminharão comigo, os sujeitos das minhas ações?
- Como fazer para obter êxito?
- Qual o melhor caminho? Existe um só caminho?
- Se já iniciei a minha caminhada, estou seguro, ou segura? Consigo ver o final da trilha?
- Preciso desviar o caminho, ante o que vejo?
- Todos estamos felizes, alunos e professores, sócio-afetiva-pedagógicamente?

Um caminhar feliz, significa a observância de resultados satisfatórios para aqueles que precisam da escola como forma de sistematização dos conteúdos das disciplinas, mas acima de tudo, o sucesso no mundo.


Abraços a todos!


Ações Pedagógicas na Aquisição da Leitura e da Escrita

Muitos são os Processos... a aquisição da leitura e da escrita

Trabalho desenvolvido no Curso de Especialização em Educação de Jovens e Adultos SME/ RJ–UNESA (2007) para a DisciplinaLeitura e Escrita I e II ministrada pelos professores
Paula Cid e Domingos Nobre

A realidade que temos hoje no país nos remete ao encontro de estatísticas que comprovam a existência de altos índices de pessoas jovens e adultas não-alfabetizadas, pessoas que ainda não se apropriaram das ferramentas de leitura e de escrita, essenciais no enfrentamento dos desafios impostos pela nossa sociedade altamente globalizada e capitalista.

Atuando como regente da Educação de Jovens e Adultos – EJA, através do PEJA, pude constatar, direta ou indiretamente, a partir de conversas com colegas da equipe, pelas lentes de um olhar atento e reflexivo, as dificuldades de ensinamento por parte da maioria de nós, professores, que atuamos nesta modalidade de ensino. A tarefa não é das mais fáceis como pensam alguns colegas que ainda não tiveram a oportunidade de atuar na EJA: “- Ah, trabalhar com adultos é muito mais fácil!”. Sabemos que não é assim, pois muitos são os desafios e incomodar-se, no sentido mesmo de “não-acomodação”, é apenas um começo para uma prática eficaz.

O processo de desenvolvimento de aquisição da leitura e da escrita há muito vêm sendo estudado e analisado juntamente com os métodos utilizados pelos professores para a alfabetização dos seus alunos ao longo do tempo.

Antigas e novas explicações surgem então para o problema que permanece ainda hoje: dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita. Tais estudos contribuíram para promover mudanças significativas no campo da metodologia de ensino.

No entanto, hoje observamos ações pedagógicas sem identidade definida, nas quais figuram por um lado a reprodução de modelos considerados ultrapassados para os nossos dias e por outro, a falta de instrumentalização por parte do professor para o desenvolvimento de um trabalho alternativo - “progressista”, “construtivista”, “sócio-interacionista”, “interdisciplinar”, “multiculturalista”, enfim em conformidade com as diversas contribuições trazidas por autores como Emília Ferreiro, Vygotsky e outros.

Muitas são as críticas e mitos: “Este modelo é muito tradicional!”, “Ensino bom era no meu tempo!”, “No método construtivista o aluno constrói sozinho o seu próprio conhecimento!”. Pensar uma solução para o problema que ora se apresenta exige a conscientização de que diversos fatores podem contribuir para a não-aprendizagem dos alunos e alunas.

Cabe a nós professores da EJA, mergulharmos no interior do espaço onde fervilham as interações professor/aluno; professor/alunos/conhecimento (ESTEBAN, 1993) e dirigir a ele olhar e olhares. Olhares atentos na captação da diversidade sócio-cultural, política e econômica que caminha pela sala de aula, ora se entrelaçando, ora se isolando, se esvaindo...

Através desses olhares talvez possamos descobrir que fatores levam os alunos a fracassarem em seus processos de aquisição da leitura e da escrita. E a partir daqueles que conseguirmos identificar, assumir uma atitude investigativa como forma de buscar caminhos para a reversão do quadro de insucessos em nossas classes de alfabetização.

Maria Tereza Esteban nos aponta a necessidade em percebermos “na rotina diária, ou de trabalho com os alunos, uma fonte inesgotável e inequívoca de possibilidades para o desenvolvimento das ações pedagógicas (1993)”.

A discussão em torno dos métodos nos leva a pensar erroneamente que “a eficácia da alfabetização é uma questão apenas de método”, como nos alerta a coordenadora do grupo de pesquisa História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil - a professora Maria Rosário L. Mortatti, da UNESP – Marília, durante seminário “Alfabetização e letramento em debate”, abril de 2006. No entanto, basta-nos uma atitude crítica e investigativa para percebermos a amplitude da questão.

Pensar em métodos de alfabetização remete-nos ao encontro do termo metodologia de ensino, e aí sim, temos uma problemática muito mais palpável e discutível quando se trata de processos de aprendizagem da leitura e escrita.

Ao longo da trajetória de trabalho no PEJA, e também com crianças das classes populares, percebi que o aluno chega à escola carregando uma marca. É a marca da desigualdade de oportunidades de acesso à educação existente no nosso país. Mesmo tendo assegurados na Constituição Federal os seus direitos, ele enfrenta barreiras enormes para escolarizar-se.

E chega quase sempre humilhado, sem identidade definida, auto-estima baixa e assumindo uma culpa que não é sua. E acreditando que "todos, desde que não sejam preguiçosos, podem chegar ao sucesso, a ter bom emprego, ter ascensão social".

São mitos que a sociedade lhe incute: "- Deus sabe o que faz!", "- Eu não consigo aprender, sou muito burro!". Há muito que os bancos escolares serviam de trampolim para a obtenção de um diploma. Hoje, para os jovens e adultos que buscam as salas de aula, é uma questão de dignidade: "- Cansei de assinar com o dedo, professora!", "- Meu pai achava que mulher não precisava ir à escola...", "- Com quatro anos já ia trabalhar na agricultura com meu pai.” “- Nunca fui na escola, não senhora!”, “- Preciso aprender professora, senão vou ser mandado embora...".

Essas são apenas algumas das inúmeras declarações que os alunos da EJA carregam na bagagem. Não raro, colhemos declarações desses alunos que refletem o quanto de incursão a nossa sociedade lhe deposita: "- Eu tenho tanta vergonha de vir para a escola. todos da minha rua, ficam me olhando. Já até ouvi: olha lá, indo pra escola depois de velha! Não sei pra quê, não vai aprender nada mesmo!".

Mas o adulto sabe bem o que quer quando busca a escola. Seus objetivos são bem definidos: "- Eu quero ler a Bíblia!", "- Eu quero conseguir um emprego melhor, cansei de ser doméstica!", "- Eu quero ensinar aos meus netos!", "- Eu quero continuar os meus estudos, ser alguém na vida!".

Infelizmente, mesmo diante dos dados acima, não é tarefa fácil para nós, educadores, exercer uma prática pedagógica capaz de atender as necessidades dos alunos, seja da EJA, ou de qualquer outra modalidade de ensino, sem uma formação sólida e comprometida com a transformação da situação que temos hoje em nossas escolas.

Na crença do “papel problematizador e agente em potencial de modificação da realidade” (Esteban, 1993) como elementos importantes para o educador, faz-se necessária a construção de uma educação que tenha uma identidade com as chamadas classes populares, com seus interesses, suas culturas; que vá além do ensinar a ler e escrever; que seja contra-hegemônica, e que tenha um compromisso político com a história dessas classes e setores subalternos.

Na escola, toda a negação à bagagem sócio-cultural que o aluno carrega consigo, principalmente o pertencente à classe popular, parece impeditiva de que ele possa se apropriar da língua oral e escrita, se considerados os padrões da norma culta e, portanto, adquirir novos conhecimentos necessários para inseri-lo numa contraposição, crítica e consciente, à realidade social altamente competitiva e exclusiva na qual se encontra.

Para Paulo Freire (1996), somente por meio do esforço sério e profundo da conscientização, os homens, por uma práxis verdadeira, superam o estado de objetos, como dominados, e assumem o de sujeitos da historia.

Mas como vivenciarmos tal prática se nós mesmos, os professores, não nos apropriamos do nosso papel enquanto sujeitos políticos-históricos-sociais, incapazes de nos perceber enquanto potência de transformação e insistimos em repetir modelos ultrapassados?



Empirismo ou Construtivismo - por uma mudança mais segura

Para mudar é preciso reconstruir toda a prática a partir de um novo paradigma teórico


Quando se tenta sair de um modelo de aprendizagem empirista para um modelo construtivista, as dificuldades de entendimento às vezes são graves.

Em uma perspectiva construtivista, o conhecimento não é concebido como uma cópia do real, incorporado diretamente pelo sujeito, como é proposto em nossas cartilhas empiristas: pressupõe uma atividade, por parte de quem aprende, que organiza e integra os novos conhecimentos aos já existentes. Isso vale tanto para o aluno quanto para o professor em processo de transformação.

Se o professor procura inovar sua prática, adotando um modelo de ensino que pressupõe a construção de conhecimento sem compreender suficientemente as questões que lhe dão sustentação, corre o risco, grave no meu modo de ver, de ficar se deslocando de um modelo que lhe é familiar para o outro, meio desconhecido, sem muito domínio de sua própria prática — "mesclando", como se costuma dizer.

O equívoco mais comum é pensar que alguns conteúdos se constroem e outros não. O que, nessa visão "mesclada", vale dizer que uns precisariam ser ensinados e outros, não. Em outros casos o modelo empirista fica intocado e as idéias que as crianças constroem em seu processo de aprendizagem são distorcidas a ponto de o professor vê-las como conteúdo a ser ensinado.

Alguns professores que, encantados com o que a psicogênese da língua escrita desvendou sobre o que pensam as crianças quando se alfabetizam, passaram a ensinar seus alunos a escrever silabicamente.

Que raciocínio leva a uma distorção desse tipo? Se os alunos têm de passar por uma escrita silábica para chegar a uma escrita alfabética, ensiná-los a escrever silabicamente faria chegar mais rápido à escrita alfabética, pensam esses professores.

Essa perspectiva só pode caber num modelo empirista de ensino, cuja lógica intrínseca é a de organizar etapas de apresentação do conhecimento aos alunos. Essa lógica não faz nenhum sentido num modelo construtivista.

Outro tipo de entendimento distorcido, mais influenciado por práticas espontaneístas, é o seguinte: diante da informação de que quem constrói o conhecimento é o sujeito, houve professores que entenderam que a intervenção pedagógica seria, então, desnecessária. Se é o aluno quem vai construir o conhecimento, o que os professores teriam a fazer dentro da sala de aula? E passaram a não fazer nada.

Como se vê, é fácil nos perdermos em nossa prática educativa quando não nos damos conta do que orienta de fato nossas ações. Ou melhor, de quais são as nossas teorias em ação.

Um erro que precisa ser evitado por nós, professores ávidos por transformação de paradigma, por suas graves conseqüências é o desvio espontaneísta: como é o aluno quem constrói o conhecimento, não seria necessário ensinar-lhe. A partir dessa crença o professor passa a não informar, a não corrigir e a se satisfazer com o que o aluno faz "do seu jeito".

Essa visão implica abandonar o aluno à sua própria sorte. E é muito importante que o professor compreenda o que significa, do ponto de vista da criança, o "vou fazer do meu jeito".

Na alfabetização, para exemplificar, quando uma criança entra na escola ainda não alfabetizada, tanto ela quanto o professor sabem que ela não sabe ler nem escrever. Ao propor que se arrisque a escrever do jeito que imagina, o que o professor na verdade está propondo é uma atividade baseada na capacidade infantil de jogar, de fazer de conta.

Num contrato desse tipo — que reza que o aluno deve escrever pondo em jogo tudo o que sabe e pensa sobre a escrita — o professor deve usar tudo o que sabe sobre as hipóteses que as crianças constroem a respeito da escrita para poder, interpretando o que o aluno escreveu, ajudá-lo a avançar. Dentro desse contrato, quem "faz de conta" é a criança.

Nesse espaço em que a criança escreve "do seu jeito" o papel do professor é delicado. Mas é semelhante ao de alguém adulto que participa de uma brincadeira de fez de conta sem entrar nela. Ao professor cabe organizar a situação de aprendizagem de forma a oferecer informação adequada.

Sua função é observar a ação das crianças, acolher ou problematizar suas produções, intervindo sempre que achar que pode fazer a reflexão dos alunos sobre a escrita avançar.

O professor funciona então como uma espécie de diretor de cena ou de contra-regra e cabe a ele montar o andaime para apoiar a construção do aprendiz.


Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br



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